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Eternamente Veneza

Quando Jürgen me convidou para passarmos o final-de-semana em Veneza, não precisei de um segundo para concordar com os olhos brilhando.
Eu o conheci em Salvador. Depois do encontro inicial no ensaio do Ilê-Ayiê, passamos o dia seguinte inteiro passeando de mãos dadas pelas ladeiras do Pelourinho. Nós nos beijávamos a cada esquina, a cada museu, loja ou restaurante. Assistimos ao nascer do sol sobre a baía de São Salvador no telhado do hotel antigo e decadente que havia sido residência de Jorge Amado e palco de uma noite digna de uma D. Flor paulistana e de seu Vadinho alemão.
De 1995 a 1998 trocamos mensagens de amor, um amor impossível pela distância e pelo preço das passagens aéreas. Finalmente ele voltou para o Brasil para um feriado na praia e eu fui para a Alemanha nas férias de julho de 1998.
Em sua pequena cidade na Baviera, na fronteira com a austríaca Salzburg, eu me sentia no cenário de um filme, deslumbrada pelos Alpes que avistava da janela. Passei os dias me sentindo a própria noviça rebelde subindo a montanha Unterberg, passeando pelos jardins do palácio Mirabell, andando pelas ruas da cidade onde nasceu Mozart e onde a música ainda habitava em acordes da universidade de música. Veneza? É possível sonhar quando ainda estamos sonhando?
De carro, atravessamos túneis, montanhas e paisagens tirolesas até chegarmos à uma cidade litorânea na Itália onde nos hospedamos para economizar as tarifas de hotel da alta estação em Veneza.
No dia seguinte saímos bem cedo de ônibus e chegamos a Veneza com o dia amanhecendo.
Não nos fez falta passar a noite em Veneza ou o caríssimo passeio de gôndola. Almoçamos em uma ilha menos badalada que tivemos só para nós e onde a vida real se apresentava em roupas coloridas penduradas de janelas em varais que cruzavam a rua. Nós nos abrigamos do sol em igrejinhas desconhecidas, entramos em mercearias comuns, falamos com gente comum, pratiquei meu pouco italiano, mas, acima de tudo a luz dos olhos azuis de Jürgen me seduziu a cada passo, seus cabelos loiros e os meus brilhavam ao sol e a nos vários passeios de barco depositei minha cabeça em seus ombros enquanto meus dedos brincavam com os pelos de seu peito largo e forte.
O encanto baiano se fez ali mais presente que em Salzburg. Pontes estreitas, vielas, edifícios recortados, os canais de águas escuras, jardineiras com gerânios e a história, a onipresente história a cada esquina na cidade-museu, tudo foi nos enredando e envolvendo com o passar do dia.
Como não aceitar seu pedido de casamento? Veneza foi romance, feitiço, encanto, embriaguez que me fez partir do Brasil para viver na Alemanha dois meses depois.

Veneza, 1998

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