A Inquisição em Portugal
Breve introdução
São muitas as fontes que nos contam da ancestral presença judaica na Península Ibérica e todas são unânimes em destacar os séculos de tolerância, liberdade e esplendor vividos pelos judeus durante os séculos da ocupação dos mouros na (711-1492).
Com a expulsão dos mouros em 1492, a rainha Isabel da Espanha decreta a expulsão dos judeus que não quisessem se converter. Um número considerável deles (de 90 a 100 mil) migrou para Portugal onde foram aceitos mediante o pagamento de taxas. Com esse acréscimo, os judeus passam a compor 13% da população portuguesa.
No entanto, quando D. Manuel pretendeu se casar com a filha da rainha da Espanha, os judeus foram forçados a se converter em 1496 sem que lhes fosse dada a opção de partir. D. João III, seu filho, lutou para que a Inquisição, já presente na Espanha desde 1478, fosse estabelecida em Portugal e isso ocorreu em 1536 tanto por razões religiosas quanto econômicas. Com a “conversão”, os cristãos-novos – alfabetizados e melhor preparados – tinham, por exemplo, acesso a cargos na administração pública e a atividades econômicas que antes lhes eram vedados como judeus e isso só aumentava o ódio que a população lhes reservava.
Usando o argumento religioso, a Inquisição pretendia punir como hereges aqueles que haviam “se convertido” e que seriam, portanto, cristãos-novos mas que continuariam a ter práticas judaicas, os chamados criptojudeus ou, pejorativamente, os marranos.. As denúncias anônimas floresciam e o denunciado era considerado culpado desde o início do processo que corria em segredo e que podia incluir torturas caso o acusado se negasse a confessar e até mesmo a morte em autos-de-fé, fogueiras armadas como espetáculo público. De qualquer maneira, seus bens eram sempre confiscados.
Os autores que se utilizaram dessas fontes para compor o quadro da vida religiosa dos chamados criptojudeus, são vários e diversos deles acompanham o que acontece com esses criptojudeus quando retornam à vida judaica ao fugir da Península Ibérica para viver em outros lugares (Amsterdã e Brasil, por exemplo).
Se você quiser conhecer melhor essa história, recomendo o livro da grande mestra Anita Novinski e sua equipe:
NOVINSKY, A.; LEVY, D.; RIBEIRO, E.; GORENSTEIN, L. Os Judeus que construíram o Brasil, Planeta, 2015
Recomendo também os livros abaixo como fonte sobre esse período da história:
BODIAN, Miriam. Hebrews of the Portuguese Nation, Bloomington: Indiana University Press, 1997
GERBER, Jane S. The Jews of Spain – a History of the Sephardic Experience
NOVINSKY, Anita. Gabinete de Investigação: uma “caça aos judeus” sem precedentes. Brasil-Holanda, séculos XVII e XVII. São Paulo: Editora Humanitas, São Paulo, 2007
VAINFAS, Ronaldo. Jerusalém Colonial – Judeus Portugueses no Brasil Holandês, Civilização Brasileira, 2010
KAYSERLING, Meyer. História dos Judeus de Portugal, Lisboa: Livraria Pioneira Editora, 1971
WILKE, Carsten L. História dos Judeus Portugueses, Lisboa: Edições 70, 2009